Instagram Feed

ubcmusica

No

cias

Notícias

Mercado audiovisual reaquecido multiplica oportunidades para a música
Publicado em 16/04/2024

André Carreira e Guilherme Fiúza Zenha, dois dos principais produtores da atualidade, comentam novos investimentos e o panorama das trilhas

Por Alessandro Soler, de Belo Horizonte

Fiúza e Carreira, dois produtores mineiros e associados da UBC: panorama otimista. Fotos: arquivo pessoal

O ano começou aquecido para o audiovisual brasileiro. Só entre janeiro e março foi disponibilizado meio bilhão de reais em ajudas públicas ao segmento, através do Fundo Setorial Audiovisual (FSA), o que deverá se refletir em dezenas de novos filmes e séries nos próximos meses e anos. Para muitos produtores, o momento é o mais promissor em quase duas décadas — o que, claro, tende a beneficiar todos os profissionais da cadeia produtiva, criadores de trilhas sonoras entre eles.

“É uma verdadeira retomada”, resume Guilherme Fiúza Zenha, produtor, associado da UBC com sua Solo Filmes e cineasta por trás do sucesso “Chef Jack - O Cozinheiro Aventureiro”, sua estreia na direção de longas de animação. “Tivemos um processo de semiparalisação em 2016, depois uma intervenção na Ancine e a entrada de um grupo que não gosta de cultura. Então, houve um represamento grande de investimento, o congelamento do financiamento das estatais ao setor. A Lei Paulo Gustavo ajuda a trazer de volta os recursos que não foram utilizados nos últimos anos. E empresas como a Petrobras agora estão lançando programas de R$ 250 milhões em investimentos. Vai-se criar um novo ciclo virtuoso.”

Diferentemente do que ocorreu em outros momentos de retomada — como a recuperação após a “devastação” do governo Collor de Mello —, agora o foco não está só nas salas de cinema. Streaming, TV e outros meios deverão ajudar a escoar as dezenas de produções atualmente em curso (a previsão, segundo cálculos de profissionais do setor, é de 400 a 450 lançamentos de longas, séries, curtas e outros produtos audiovisuais em 2024).

“Mas claro, não podemos esquecer a importância das salas físicas, é preciso ações para reverter a quase ausência de produções brasileiras competitivas nos cinemas. Ano passado, produções nacionais tiveram ocupação de menos de 1% do mercado. Talvez seja o percentual mais baixo de todos os tempos”, descreve André Carreira, sócio da Camisa Listrada, hoje uma das principais produtoras de cinema do país, mineiro como Fiúza (embora radicado no Rio) e também associado da UBC.

Em janeiro, o governo sancionou uma lei aprovada no Senado que restabelece a cota de tela para filmes nacionais até 2031. Desde a gestão anterior, a cota estava suspensa, após a não renovação da medida provisória de 2001 que a havia estabelecido. Como resultado, houve uma enxurrada ainda mais forte de produções estrangeiras nas salas de cinema brasileiras.

Para se ter uma ideia, ano passado, ainda sem a cota, a maior bilheteria do cinema nacional foi “Nosso Sonho”, cinebiografia de Claudinho & Buchecha, com pouco mais de 520 mil espectadores. “Barbie”, a maior bilheteria do ano, teve mais de 10,5 milhões. A diferença é enorme, mas, mesmo assim, ambos os filmes passaram longe dos resultados de anos recentes pré-pandemia:

“‘Minha Mãe é Uma Peça 3’ teve mais de 11 milhões em 2019. 2020, 21, 22 e 23 foram anos em que o cinema brasileiro quase não existiu nas telas. Mas se manteve forte no streaming. E este ano estamos tendo já desempenhos bem bons nos cinemas físicos, com ‘Minha Irmã e Eu’ (mais de 2 milhões de espectadores em pouco mais de dois meses), ‘Nosso Lar 2’ (1,5 milhão) e outros”, enumera Carreira.

Cena de 'Chef Jack', produção de Fiúza feita em Minas Gerais e com boa repercussão em todo o país. Reprodução

Mais produções, mais bilheteria, mais oportunidades para toda a cadeia de valor do audiovisual. Os dois produtores mineiros creem que o mercado de trilha sonora original para audiovisual deve viver um boom no curto e no médio prazos. Ano passado, segundo do relatório anual da Pro-Música divulgados há algumas semanas, as receitas de sincronização de músicas em trilhas sonoras de produções audiovisuais alcançaram R$ 14 milhões, um valor 87% maior que o de 2022. Já globalmente, segundo a IFPI, foram gerados US$ 600 milhões. 

“Temos muitos profissionais fantásticos trabalhando na área e muitas oportunidades. Mas também, por outro lado, sinto que precisaria haver maior diversidade de estilos, sinto que as trilhas têm ido numa mesma direção ultimamente, muito sintetizador, muita coisa meio parecida. E o grande barato, a grande coisa, da trilha é justamente ajudar a contar histórias variadas, atender a estéticas e estilos muito diferentes”, raciocina Fiúza.

Ele próprio consta como produtor de trilhas para vários de seus filmes. Faz questão de se envolver em cada etapa do processo.

“Tenho relação muito simbiótica com a trilha, preciso dela. Quando escrevo roteiros e histórias, monto a trilha do projeto ao mesmo tempo. Não necessariamente serão as músicas que acabarão de fato no filme. Mas inspiram. A música e as palavras, para mim, andam juntas. E é por isso que trabalho sempre muito junto do compositor da trilha, mexendo junto com ele. No audiovisual, ninguém faz nada sozinho, se trata de um trabalho essencialmente coletivo. E isso é lindo.”

Carreira, embora não crie a trilha diretamente, também põe o foco sobre ela de uma maneira muito especial na sua produtora.

“Temos vários projetos conectados com música, e que tentam explorar múltiplas plataformas, não só as telas, não só o streaming de vídeo. Nos inspiramos em ‘Nasce Uma Estrela’, da Lady Gaga, e fizemos o filme ‘Depois do Universo’, com a Giulia, em 2022. Então, pegamos a música homônima e a lançamos, virou um fenômeno com milhões de visualizações do clipe no YouTube e no TikTok, uma das faixas mais ouvidas da Giulia”, relembra. “O cinema brasileiro e a música ainda têm que sair desse lugar só da trilha, indo para outro em que um consegue potencializar o outro. Olha o que a gente conseguiu fazer, o que o audiovisual fez com uma cantora como a Giulia: colocar música dela no topo das paradas através de um filme.”

Cena do filme 'Depois do Universo', produção de Carreira com Giulia e o ator Henrique Zaga: sucesso para além dos cinemas. Divulgação

Outro caso que ele cita é de “Mussum, o Filmis”, também uma coprodução da Camisa Listrada.

“Por conta da trilha, resgatamos todos os Originais do Samba, músicas clássicas deles. Muita gente postando que voltou a ouvir samba, os próprios Originais comentando que tiveram aumento grande na agenda de shows… Tudo graças ao filme. É um ganha-ganha, e as nossas áreas ainda tem muito o que fazer juntas”, conta.

Fiúza faz coro:

“Se sem dinheiro já fazemos 400 filmes por ano, imagina o que não faremos com a retomada dos financiamentos. A Petrobras, sozinha, colocou R$ 250 milhões este ano. Se não fosse a paralisia dos quatro anos anteriores, teria sido R$ 1 bilhão a mais. Dá para fazer muitas coisas incríveis. E tudo movido pelo engenho humano, pela criatividade humana. Que me perdoem os entusiastas da inteligência artificial, mas os robôs, como diria Ridley Scott (diretor de 'Blade Runner'), são replicantes, só replicam, não criam nada. Quem cria somos nós, que colocamos de pé e, apesar das dificuldades, mantemos em expansão uma indústria vibrante, que, segundo um estudo de 2019, gera mais de 300 mil empregos diretos e indiretos e tem uma receita de R$ 75 bilhões por ano. E que não polui, não desmata, não estoura barragem de rio… Economia limpa, criativa e saudável. Não tem como dar errado.”

LEIA MAIS: Associados da UBC, autores da trilha do ano comentam vitória no Prêmio do Cinema Brasileiro

LEIA MAIS: Em 2023, mercado de trilhas já sentia retomada


 

 



Voltar